Publicado em: 30/05/2025.
Saiba por que a eficiência dos fertilizantes ainda é um gargalo e Como podemos superá-lo.
A eficiência de uso de fertilizantes é um tema necessário para a agricultura moderna.
Com o aumento da demanda global por alimentos, cresce também a responsabilidade de produzir mais com menos impacto.
Neste cenário, otimizar o uso de fertilizantes deixou de ser apenas uma questão de produtividade e tornou-se uma estratégia necessária para garantir a sustentabilidade ambiental, social e econômica no campo.
Mas será que os fertilizantes estão sendo usados de forma eficiente?
Segundo a FAO (2024), apenas 55% do nitrogênio aplicado nas lavouras é efetivamente absorvido pelas plantas.
Isso significa que mais da metade deste insumo é perdido para o meio ambiente, o que gera poluição, desperdício e prejuízos econômicos.
Ficou interessado(a) neste assunto e quer saber como aplicar esse conhecimento no campo? Continue conosco! Boa leitura.
O que é Eficiência de Uso de Fertilizantes (EUF)?
A EUF é definida como a capacidade de maximizar os benefícios agrícolas provenientes do uso de fertilizantes, ao mesmo tempo em que minimiza os impactos ambientais negativos associados ao uso excessivo ou inadequado dos insumos agrícolas.
A eficiência está relacionada a quanto dos nutrientes aplicados pelas plantas são realmente absorvidos e utilizados para o crescimento, versus quanto é perdido para o ambiente, como por exemplo por lixiviação ou volatilização.
Desta forma, melhorias na EUF envolvem estratégias como:
- Adequar a proporção de nutrientes que as plantas realmente utilizam;
- Reduzir perdas ambientais e custos para os agricultores;
- Contribuir para a sustentabilidade no manejo das culturas.
Isso implica em considerar múltiplos fatores interligados, como o tipo de solo, a capacidade de retenção e liberação de nutrientes, a atividade microbiana e as condições climáticas locais.
N, P, K: principais desafios
Apesar das diversas tecnologias disponíveis no mercado, a baixa eficiência do uso de fertilizantes ainda é um gargalo na agricultura.
Esse desafio se agrava quando se observa o elevado grau de dependência do Brasil em relação à importação de fertilizantes.
Imagem: Entregas, produção nacional e importações de fertilizantes no Brasil entre 2018 e 2020. Fonte: ANDA e USDA (2021).
Isso ocorre porque o sistema produtivo agrícola é altamente dinâmico, como explica o Prof. Carlos Nascimento, docente da ESALQ/USP e do SolloAgro.
Segundo ele, existe uma defasagem significativa entre o ritmo de desenvolvimento das tecnologias e as rápidas transformações que ocorrem no campo, como mudanças nas condições de solo, clima, manejo e no perfil genético das cultivares.
“Muitas vezes, quando uma inovação chega ao mercado, ela já não está mais totalmente alinhada à realidade agronômica vigente”, destacou o professor.
Essa desconexão compromete a eficiência do insumo, mesmo quando sua formulação é tecnicamente avançada, o que evidencia que a eficácia de um fertilizante não depende apenas do produto em si, mas do contexto em que é aplicado.
Em vista disso, o nitrogênio (N) é o nutriente mais utilizado na agricultura e, ao mesmo tempo, um dos mais propensos a perdas devido à sua alta mobilidade no solo e suscetibilidade à volatilização e lixiviação. Para aumentar a eficiência do nitrogênio, é necessário considerar o momento e a forma de aplicação.
O uso de fontes estabilizadas ou protegidas, como a ureia com inibidor de urease (NBPT: N-(n-butil) tiofosfórico triamida), tem mostrado bons resultados e é considerada como um dos maiores casos de sucesso no campo.O fósforo (P), por outro lado, apresenta desafios distintos: possui baixa mobilidade e alta fixação nos solos tropicais, especialmente os ricos em óxidos de ferro e alumínio.
Imagem: Fixação de fósforo em diferentes faixas de pH do solo. Fonte: International Plant Nutrition Institute.
Essa característica reduz drasticamente sua disponibilidade para as plantas, sendo que 20 a 30% da adubação fosfatada aplicada é assimilada pelas plantas. A posição da aplicação no solo, o tipo de fonte fosfatada e o pH são fatores cruciais para contornar esse entrave.
Para o potássio (K), a maior parte é aplicada como cloreto de potássio (KCl) e possui mobilidade intermediária no solo, mas, em ambientes arenosos ou com irrigação intensa, está sujeito à lixiviação.
Nos últimos anos, observa-se um esforço crescente da indústria na busca por soluções mais sustentáveis para o potássio, como o desenvolvimento de fertilizantes à base de minérios potássicos de baixa solubilidade.
Embora esses materiais tenham baixa concentração, podem se tornar fontes viáveis de potássio se atacados por microrganismos específicos que liberam gradualmente o nutriente ao longo do tempo.
Estratégias para aumentar a eficiência dos fertilizantes
1. Manejo 4R (Fonte, dose, forma e época)
O conceito dos 4R (do inglês 4R – Right Source, Right Rate, Right Time, Right Place) é um dos pilares da nutrição inteligente.
A proposta é que o sucesso do manejo do fertilizante depende do alinhamento entre a fonte correta de nutriente, sua dose adequada, o momento certo da aplicação e a forma apropriada de incorporação ao solo.
Dessa forma, reduz perdas, aumenta a eficiência de absorção e melhora a resposta da planta.
2. Correção e condicionamento do solo
A melhoria das condições químicas e físicas do solo é fundamental para garantir que os fertilizantes sejam efetivos. A calagem corrige a acidez do solo, enquanto a gessagem melhora a mobilidade de cálcio e enxofre e favorece o crescimento radicular em profundidade.
Solos bem condicionados apresentam maior atividade biológica, melhor estrutura e maior capacidade de retenção de água e nutrientes.
Isso se traduz em maior eficiência no uso de fertilizantes e em plantas mais saudáveis e produtivas.
3. Tecnologias Inovadoras
Conforme a agricultura avança rumo a sistemas mais sustentáveis e eficientes, novas tecnologias têm sido desenvolvidas para ampliar a eficiência de uso dos fertilizantes.
Essas inovações buscam alinhar a produção agrícola com os princípios da sustentabilidade ambiental e do uso racional de insumos.
A seguir, destacamos as principais frentes tecnológicas nesse cenário:
- Fertilizantes de liberação lenta e controlada: sincronizam o fornecimento de nutrientes com a demanda da planta. Fertilizantes de liberação lenta oferecem nutrientes de forma gradual, enquanto os de liberação controlada, revestidos por polímeros, respondem a fatores ambientais como temperatura e umidade. Ambos reduzem perdas por lixiviação e volatilização, ideais para culturas de ciclo longo ou em condições de manejo limitado.
- Fertilizantes organominerais: combinam fontes minerais com materiais orgânicos e promovem uma liberação mais equilibrada dos nutrientes, contribuindo para a melhoria da estrutura e da saúde do solo.
Além disso, favorecem a atividade microbiana, desde que estejam presentes duas condições essenciais:
- disponibilidade de água;
- presença de matéria orgânica.
Sem esses dois fatores, o potencial biológico dos organominerais é limitado.
Imagem: Fertilizante Organomineral Granulado da Embrapa, obtido a partir de cama de frango. Fonte: Associação de Engenheiros Agrônomos de Sergipe (2019).
- Nanofertilizantes e sistemas responsivos a estímulos: atuam com partículas em escala nanométrica, o que aumenta a eficiência de absorção e permite menor dosagem com maior efeito. Quando associados a sistemas responsivos a estímulos como pH, temperatura ou sinais das plantas, esses fertilizantes oferecem liberação dirigida e sob demanda.
- Fertirrigação: integra a aplicação de fertilizantes à irrigação, e possibilita ajustes finos nas doses e na frequência da adubação. É muito utilizado em áreas com solos arenosos ou alta demanda hídrica, visto que permite uma nutrição mais constante e eficiente ao longo do ciclo da cultura.
- Modelagem preditiva e aprendizado de máquina: com base em dados históricos, climáticos e operacionais, ferramentas de inteligência artificial permitem prever as necessidades nutricionais da lavoura ao longo do tempo. A modelagem preditiva contribui para um planejamento de adubação mais eficiente e adaptado às condições reais do campo, limitando excessos e falhas.
Conclusão
Melhorar a eficiência de uso dos fertilizantes é uma demanda central na agricultura. Para isso, é necessário compreender o funcionamento do sistema agronômico como um todo, desde o solo, clima, microbiota e momento de aplicação.
Neste contexto, a integração entre tecnologia, manejo qualificado e diagnóstico agronômico é o que permite ganhos reais de produtividade, com menor risco de perdas e impactos ambientais.
*Texto redigido pela Equipe de Conteúdo do SolloAgro.





0 comentários