Publicado em: 15/11/2024.
Para obtenção do título de Mestre em Ciências, João Victor Marçal Fernandes desenvolveu sua dissertação intitulada “Qualidade física do solo em pastagens sob diferentes níveis de intensificação e integração em um Latossolo brasileiro” sob a orientação do Prof. Miguel Cooper, docente da ESALQ/USP e do Programa SolloAgro.
Imagem: Embrapa Pecuária Sudeste. Fonte: João Victor Marçal Fernandes
Com a crescente degradação das pastagens no Brasil e o aumento da demanda mundial por alimentos, alternativas sustentáveis tornam-se essenciais.
A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) tem se mostrado uma solução eficaz para recuperar áreas degradadas, melhorar a qualidade do solo e mitigar os efeitos das mudanças climáticas, promovendo uma agricultura sustentável.
Em sua pesquisa, João Victor buscou entender a qualidade do solo em diferentes sistemas de manejo de pastagem, dentre eles o ILPF.
A seguir, vamos entender melhor alguns pontos importantes antes da pesquisa propriamente dita.
O que é ILPF e seus benefícios
A ILPF é um sistema de uso do solo que combina culturas agrícolas, pecuária e florestais em uma mesma área e em períodos planejados. Pode-se adotar práticas como consórcio, rotação ou sucessão de culturas.
Este sistema integrado oferece múltiplos benefícios, como o aumento da biodiversidade, a redução da erosão do solo e a melhoria das estruturas físicas, químicas e biológicas.
Alguns estudos demonstram que a integração de espécies, como o eucalipto em sistemas agrosilvopastoris, melhora a retenção de água, a capacidade de aeração do solo e a qualidade estrutural em comparação com pastagens degradadas.
Plano ABC e Sustentabilidade
O Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), lançado pelo governo brasileiro, promove práticas agrícolas sustentáveis com potencial de reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Entre os sete programas do plano, a recuperação de pastagens degradadas e a adoção da ILPF são fundamentais para atingir as metas de sustentabilidade. O plano incentiva o uso de sistemas de integração para otimizar a utilização dos recursos naturais e atender à crescente demanda por alimentos de forma sustentável.
Indicadores de Qualidade do Solo
A qualidade do solo pode ser definida como a capacidade do solo de sustentar a produtividade biológica, preservar a qualidade ambiental e promover a sustentabilidade dos ecossistemas.
Avaliar a qualidade do solo envolve indicadores físicos, químicos e biológicos que refletem suas funções e serviços ecossistêmicos. No contexto da ILPF, são utilizados indicadores físicos como densidade, porosidade e estabilidade de agregados.
Esses atributos influenciam diretamente a infiltração de água, a resistência à erosão e a capacidade de troca de gases, fundamentais para a saúde das raízes e da microbiota do solo.
Pesquisas mostram que o ILPF pode diminuir a compactação do solo causada pelo pisoteio animal, melhorar a agregação e reduzir a densidade do solo, o que evita a degradação física e garante uma melhor infiltração de água.
Os métodos de avaliação da qualidade do solo em sistemas integrados variam de acordo com as condições locais. O “Soil Management Assessment Framework” (SMAF) é um exemplo de ferramenta que utiliza indicadores de qualidade do solo, como carbono orgânico e pH, para avaliar impactos de diferentes manejos.
No Brasil, esses indicadores têm sido aplicados em pesquisas sobre ILPF para comparar áreas integradas com monoculturas e pastagens degradadas.
A pesquisa
Nesse momento, vamos entender a pesquisa realizada por João Vitor e os principais pontos.
O objetivo com a pesquisa foi analisar a qualidade física do solo em cinco diferentes sistemas de manejo de pastagem, juntamente com uma área de vegetação nativa (NV):
- Integração pecuária-floresta com espécies de árvores nativas (IPF);
- Pastagem degradada (DP);
- Pastagem irrigada com alta taxa de lotação (IHS);
- Pastagem em sequeiro com alta taxa de lotação (RHS);
- Pastagem em sequeiro com moderada taxa de lotação (RMS).
A amostragem de solo foi feita na área experimental da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos, SP.
Imagem: Perfis de solo das áreas coletadas. Fonte: João Victor Marçal Fernandes
A qualidade física do solo foi avaliada com base em três funções principais:
- Capacidade de suporte ao desenvolvimento radicular;
- Disponibilidade de água para plantas;
- Fauna do solo, e troca de gases entre o solo e a atmosfera.
Resultados da pesquisa
Ficou constatado que o aumento da intensificação das pastagens resultou em uma degradação significativa dos atributos físicos analisados. De acordo com o autor, isso pode estar relacionado ao tipo de planta cultivada na área, que forma touceiras e cria áreas desprotegidas de solo, tornando-as mais suscetíveis ao pisoteio do gado.
Imagem: Boxplots mostram os resultados da densidade do solo (BD) em três profundidades nos diferentes sistemas estudados. Fonte: João Victor Marçal Fernandes
No entanto, observou-se que o consórcio de capim-mombaça com aveia e azevém durante o outono parece contribuir para a manutenção da qualidade física do solo no sistema de pastagem irrigada com alta lotação.
Imagem: Análise de Componentes Principais (PCA) para indicadores de qualidade do solo em diferentes sistemas de pastagem e uma área de vegetação nativa. As setas indicam as variáveis de qualidade do solo (como SOM – matéria orgânica do solo, BD – densidade do solo, TP – porosidade total, entre outras), e os pontos representam os dados coletados em cada sistema. Fonte: João Victor Marçal Fernandes
Além disso, a presença de árvores no sistema de integração pecuária-floresta (IPF) teve um impacto positivo na qualidade do solo, aproximando mais da área de referência em comparação com o sistema RMS.
O sistema IPF compartilha características semelhantes ao sistema RMS, como taxas de lotação, tempo de pastejo e descanso, espécie de forrageira e adubação nitrogenada.
Conclusão
Com a pesquisa, João Victor concluiu que o sistema de integração pecuária-floresta com árvores nativas mostrou potencial para mitigar os danos à qualidade física do solo causados pela conversão de vegetação nativa em pastagens.
Também recomenda a realização de novos estudos para explorar diferentes arranjos e espécies, visando otimizar a prática e reduzir os impactos da pecuária intensiva no solo.
Quer saber mais? Confira a dissertação completa aqui.
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