Rede biológica: quem vive sob o solo?

Publicado em: 04/07/2025.

Descubra como os organismos do solo sustentam a fertilidade, a produtividade e a resiliência dos agroecossistemas.

No solo, uma complexa rede biológica atua como a base invisível da produção agrícola. 

Essa rede inclui microrganismos, microfauna, mesofauna e macrofauna que desempenham funções fundamentais para o equilíbrio do sistema produtivo.

O solo abriga até 23% da biodiversidade terrestre conhecida, especialmente microrganismos e invertebrados, sendo um dos ecossistemas mais diversos e menos estudados do planeta (Ertiban, 2019). 

Entretanto, práticas agrícolas convencionais ainda negligenciam esse potencial biológico, o que compromete a eficiência e a sustentabilidade da produção.

Neste artigo, entenda como a biologia do solo influencia o desempenho agrícola e como estratégias de manejo podem potencializar esse ecossistema vivo.

Boa leitura!

Importância da biologia do solo para a agricultura

A biologia do solo representa todos os organismos que vivem total ou parcialmente no solo, o que inclui bactérias, fungos, nematóides, artrópodes e minhocas. 

Eles formam uma rede trófica complexa e funcional.

Essa diversidade biológica está diretamente associada à estabilidade dos ecossistemas e à manutenção dos serviços ecossistêmicos como a ciclagem de nutrientes, formação do solo, controle biológico e sequestro de carbono.

Imagem: Principais processos e funções dos organismos do solo. Fonte: Siqueira et al. (2004)

Apesar disso, há uma lacuna de estudos em regiões tropicais, como o Brasil, especialmente sobre organismos como formigas, térmitas e oligoquetas, fundamentais para esses processos.

Habitantes do solo: classificação funcional da fauna edáfica

A fauna do solo é dividida com base no tamanho corporal:

  • Microfauna (< 200 µm): inclui protozoários e nematóides, organismos com alta mobilidade em poros preenchidos por água. Esses organismos promovem a liberação rápida de nutrientes ao se alimentarem de microrganismos menores.
  • Mesofauna (0,2–2 mm): representada por ácaros, colêmbolos e enchytraeídeos. Essa fauna interage com a matéria orgânica, fragmenta resíduos vegetais, contribuem para a formação do húmus e promovem a dispersão de microrganismos.
  • Macrofauna (> 2 mm): composta por minhocas, térmitas e formigas. São consideradas engenheiras do ecossistema, pois alteram a estrutura física do solo por meio da bioturbação, constroem galerias, promovem a agregação e influenciam a dinâmica da matéria orgânica e a fertilidade.

Imagem: Exemplos da fauna edáfica do solo. Fonte: Adaptado de  The State of Knowledge of Soil Biodiversity, FAO

Microrganismos benéficos e influência na produtividade agrícola

Microrganismos como bactérias e fungos atuam em diversos processos. As bactérias diazotróficas, por exemplo, realizam a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN).

Além disso, bactérias e fungos também contribuem com a solubilização de fósforo, produção de fitohormônios e compostos antimicrobianos.

Esses organismos formam comunidades diversificadas e funcionalmente especializadas, muitas vezes associadas às raízes das plantas (rizosfera). 

Essa interação simbiótica é utilizada na mobilização de nutrientes, defesa contra patógenos e indução de tolerância ao estresse ambiental, como salinidade e seca.

Avanços em metagenômica revelam o papel dessas comunidades na resiliência das plantas ao estresse abiótico e na eficiência no uso de nutrientes

A integração desses organismos ao manejo reduz a dependência de insumos químicos nos sistemas produtivos.

O impacto do manejo agrícola sobre a biologia do solo

Práticas como revolvimento excessivo e monocultivo comprometem a biodiversidade do solo e suas funções ecológicas.

Por outro lado, práticas como plantio direto, adubação verde e uso de compostos orgânicos fortalecem comunidades edáficas diversificadas e funcionais.

A manutenção da biodiversidade do solo está relacionada à estabilidade e funcionalidade dos ecossistemas agrícolas. A presença de comunidades biológicas diversificadas contribui para a resistência aos distúrbios, como estresse hídrico, compactação e contaminação química, além de favorecer a recuperação natural do solo após impactos intensivos.

Interação entre bioinsumos e a biologia do solo

Os produtos biológicos são aliados na construção de sistemas agrícolas mais sustentáveis e eficientes. 

Esses insumos utilizam organismos vivos, como bactérias e fungos benéficos para promover o crescimento das plantas, aumentar a absorção de nutrientes, melhorar a saúde do solo e oferecer proteção contra doenças.

Insumos como biofertilizantes, biocontroladores e inoculantes micorrízicos são produtos baseados em microrganismos benéficos que promovem o crescimento vegetal e a sanidade das culturas.

A seguir, destacamos os principais tipos e suas funções no contexto do manejo agrícola:

  • PGPR (Plant Growth-Promoting Rhizobacteria): grupo de bactérias que colonizam a rizosfera e promovem o crescimento vegetal por diversos mecanismos. Estimulam o desenvolvimento radicular, aumentam a absorção de nutrientes e produzem substâncias com efeito supressor sobre patógenos.
  • Micorrizas arbusculares: fungos que formam associações simbióticas com raízes de plantas. Ampliam a absorção de fósforo e outros nutrientes de baixa mobilidade no solo, auxiliam na tolerância ao déficit hídrica e a outros estresses ambientais, e melhoram a estrutura física do solo pela formação de agregados estáveis.
  • Biocontroladores: microrganismos com ação antagonista a fitopatógenos. Espécies como Bacillus e Trichoderma atuam por competição, antibiose ou indução de resistência sistêmica nas plantas, e servem como alternativas sustentáveis ao uso de defensivos químicos, oferecendo defesa natural contra doenças de solo.

A resposta do sistema depende do solo, cultura, clima e formulação do produto, exigindo decisões técnicas bem fundamentadas.

Imagem: Partes de uma micorriza arbuscular. Fonte: Saggin Júnior, O. J. & Silva, E. M. R. (2016)

Conclusão

O entendimento da biologia do solo e o uso de produtos biológicos são fundamentais para melhorar a eficiência dos sistemas agrícolas e promover maior produtividade.

Essas estratégias, quando integradas ao manejo conservacionista, ampliam a sustentabilidade agrícola com base em processos naturais mediados por microrganismos e fauna edáfica.

Texto redigido pela Equipe de Conteúdo do SolloAgro.

Referências Bibliográficas:

Ertiban, S. M. (2019). Soil Fauna as Webmasters, Engineers and Bioindicators in Ecosystems. American Journal of Life Sciences. DOI:10.11648/j.ajls.20190701.14

Saggin Júnior, O. J. & Silva, E. M. R. (2016) Micorriza Arbuscular – Papel, Funcionamento e Aplicação da Simbiose. Embrapa. 

Siqueira, O. et al. (2004). Interferências no agrossistema e riscos ambientais de culturas transgênicas tolerantes a herbicidas e protegidas contra insetos. 

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