Publicado em: 03/10/2025.
Temperatura, chuva e eventos extremos afetam produtividade, sacarose e sustentabilidade da lavoura.
O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, sendo o Estado de São Paulo responsável por cerca de 60% da cana-de-açúcar brasileira em condições de sequeiro.
A safra 2024/25 é estimada em cerca de 690 milhões de toneladas de cana; a produtividade média agrícola do país na safra 2024/25 está em torno de 79,2 t/ha. Estudos indicam que os rendimentos projetados para 2050 variaram de 96 a 129 t ha−1, que são respectivamente 15 e 59% maiores do que o rendimento médio, em razão do clima.
Por que o clima importa para a cana-de-açúcar?
A cana-de-açúcar é uma gramínea perene C4 de alto porte cuja produção (biomassa e acúmulo de sacarose) depende da radiação solar, temperatura e disponibilidade hídrica ao longo do ciclo.
Alterações na intensidade e na sazonalidade dessas variáveis alteram o perfil de crescimento, a composição dos colmos (teor de sacarose) e a incidência de pragas e doenças.
Imagem: Potencial hídrico da cultura da cana-de-açúcar. Fonte: Barborsa AM (2022).
Exigências climáticas da cana-de-açúcar
- Temperatura: crescimento ótimo entre 20-30°C; abaixo de ~15 °C o crescimento é limitado; temperaturas muito altas (>38 °C) provocam estresse térmico e redução de produtividade.
- Radiação: alta radiação favorece fotossíntese e acúmulo de massa; períodos prolongados de nebulosidade reduzem rendimento.
- Precipitação: a cana apresenta demanda anual na faixa de 1.500-2.500 mm.
- Umidade relativa: influência na transpiração, eficiência do uso da água e condições favoráveis para doenças fúngicas.
- Vento ou eventos extremos: ventos fortes podem causar acamamento; geadas (em regiões susceptíveis) provocam perdas severas de qualidade e mortalidade.
Imagem: morte do meristema apical em decorrência da geada. Fonte: João Paulo Marim Sebim.
Fases fenológicas mais sensíveis ao clima
A produtividade e a qualidade da cana-de-açúcar depende das condições climáticas ao longo de seu ciclo. Cada fase fenológica apresenta diferentes níveis de exigência em relação a fatores como temperatura, disponibilidade hídrica e radiação solar.
Identificar os períodos mais críticos permite adotar práticas de manejo adequadas, reduzindo riscos e maximizando o potencial produtivo. As mais críticas são:
- Brotação e estabelecimento: sensíveis à umidade do solo e temperatura; falhas no estabelecimento reduzem densidade de colmos.
- Crescimento vegetativo (perfilhamento e elongação): requer água e radiação adequadas para máxima produção de biomassa.
Maturação: déficit hídrico moderado e temperaturas amenas tendem a concentrar a sacarose (melhor ATR), mas estresse severo reduz rendimento total.
Importância da água
A boa disponibilidade de água é importante para um bom desenvolvimento da planta, com influência sobre:
- A divisão e alongamento celular;
- Manutenção do turgor celular;
- Absorção e transporte de nutrientes do solo para a planta;
- Translocação dos fotoassimilados da região fonte para a região dreno;
- Matéria-prima da fotossíntese (fornecimento de elétrons e H+ para formação de NADPH e ATP);
- Manutenção das reações metabólicas e fisiológicas da planta;
- Controle da temperatura foliar.
Imagem: A radiação aquece solo e folhas, mas a transpiração mantém a temperatura foliar abaixo de 30 °C, enquanto o solo pode atingir 48 °C. Fonte: Alexandre de Moraes Barbosa.
De toda água absorvida pela planta, cerca de 95% é perdida para atmosfera via transpiração, e apenas 5% é utilizada para as reações metabólicas.
Estratégias de manejo para mitigar riscos climáticos
- Seleção de variedades adaptadas: tolerância à seca, frio ou maior eficiência no uso da água.
- Irrigação suplementar e manejo eficiente da água: uso de modelos de demanda hídrica e sensores para irrigação localizada.
Estudos regionais mostram que irrigação bem planejada melhora produtividade em áreas com déficit sazonal.
Imagem: Plantas irrigadas à esquerda e sob déficit hídrico à direita. Fonte: Alexandrius de Moraes Barbosa.
- Manejo do solo e conservação da água: práticas como plantio direto, cobertura vegetal e conservação de matéria orgânica aumentam capacidade de retenção hídrica e reduzem a erosão.
- Planejamento da safra (época de plantio/colheita): ajustar épocas de plantio e colheita segundo histórico climático local para reduzir exposição a eventos climáticos críticos.
- Monitoramento climático e uso de previsões e modelos: integrar dados climáticos para decisões de irrigação, fertilização e colheita.
Ferramentas de sensoriamento remoto e modelos de previsão de rendimento já vêm sendo aplicadas com sucesso para estimativas de produtividade.Diversificação de produtos e flexibilidade industrial: ajustar a indústria entre açúcar e etanol conforme as condições de safra e preços, reduzindo risco econômico.
Conclusão
O clima é limitante na produção e na qualidade da cana-de-açúcar.
Dada a magnitude da produção brasileira e a elevada demanda hídrica do cultivo, práticas de manejo adaptativo, investimento em tecnologia (irrigação de precisão, variedades tolerantes) e uso de monitoramento climático são necessários para mitigar riscos e manter a competitividade do setor frente à variabilidade e ao clima em mudança.
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*Texto redigido pela Equipe de Conteúdo do SolloAgro.
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