Dinâmica do fósforo em solo arenoso: desafios no manejo de fertilizantes

Publicado em: 26/09/2025.

Estudo avalia fontes de fósforo em solo arenoso e revela riscos de lixiviação e estratégias para manejo sustentável em ambientes tropicais

Os solos arenosos ocupam cerca de 900 milhões de hectares no mundo. A dinâmica do fósforo (P) no solo é complexa, principalmente em ambientes tropicais onde predominam solos intemperizados. 

Nos solos arenosos, caracterizados por baixa capacidade de troca catiônica (CTC), reduzido teor de argila e alta permeabilidade, a retenção de fósforo é limitada, o que aumenta o risco de perdas por lixiviação.

Nesse contexto, o estudo conduzido por Pessoa et al. (2025) avaliou o comportamento do fósforo em um solo arenoso, aplicado em diferentes fontes: superfosfato triplo (TSP), fertilizante organomineral (OM), estruvita (STR) e termofosfato (ThermoP).

Imagem: Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) mostrando as microestruturas de superfície de fontes de fertilizantes fosfatados: superfosfato triplo (TSP), organomineral (OM), estruvita (STR) e termofosfato (ThermoP). Fonte: Pessoa et al. (2025).

Essa pesquisa apresentou resultados promissores. Quer saber mais? Continue a leitura.

Solos arenosos e a vulnerabilidade ao fósforo

Os solos arenosos possuem limitações físicas e químicas: 

  • Alta densidade aparente;
  • Baixa retenção de água;
  • Baixa CTC;
  • Reduzida quantidade de óxidos de ferro (Fe) e alumínio (Al) capazes de absorver fósforo. 

Assim, quando fertilizados, esses solos apresentam maior propensão à lixiviação, especialmente sob condições de elevada pluviosidade ou irrigação.

Essa característica torna o manejo do P nesses ambientes um desafio. 

Enquanto em Latossolos e argilosos a fixação do fósforo reduz sua disponibilidade imediata, em solos arenosos o risco é inverso: grande parte do P aplicado pode ser perdida para o lençol freático.

Dinâmica do fósforo no solo arenoso

O experimento mostrou contrastes marcantes entre as fontes de P:

  • TSP e organomineral: apresentaram lixiviação de 100% do fósforo aplicado, atingindo concentrações elevadas no efluente.

Isso indica que essas fontes, por sua alta solubilidade, disponibilizam rapidamente o nutriente, mas também elevam os riscos de perdas.

  • Estruvita e termofosfato: tiveram menor lixiviação, com valores de recuperação no efluente de 35% e 34%, respectivamente.

Imagem: conteúdo cumulativo de P no efluente de colunas de solo enriquecido com superfosfato triplo (TSP), organomineral (OM), estruvita (STR) e termofosfato (ThermoP). Fonte: Pessoa et al. (2025).

Em termos de frações de P no solo, observou-se:

  • Maior acúmulo de P lábil (disponível às plantas) nas camadas superficiais dos tratamentos com TSP e OM.
  • Maior proporção de P não-lábil nos tratamentos com ThermoP e STR, indicando potencial para liberação gradual ao longo do tempo.

Esses resultados confirmam que fontes solúveis atendem rapidamente à demanda inicial das plantas, mas representam maior risco de perda.

Impactos ambientais

A alta mobilidade do fósforo em solos arenosos fertilizados com TSP e OM implica risco significativo de contaminação de águas subterrâneas. 

Esse processo pode levar à eutrofização de corpos hídricos, comprometendo a qualidade da água e gerando impactos ecológicos.

Já as fontes de liberação lenta, como estruvita e termofosfato, reduzem esse risco por manterem maior parte do P retido no perfil do solo, ainda que em formas menos prontamente disponíveis.

Implicações para o manejo agrícola

Com base nos resultados, algumas recomendações práticas podem ser destacadas:

  1. Evitar doses elevadas de P solúvel em solos arenosos – A aplicação de TSP e OM deve ser manejada com cuidado, de preferência em doses parceladas.
  2. Valorizar fontes alternativas – Estruvita e ThermoP mostraram maior eficiência ambiental, podendo ser estratégicos em sistemas de longo prazo (culturas perenes).
  3. Ajustar recomendações regionais – Solos arenosos demandam critérios específicos de adubação, não se deve considerar apenas a produtividade, mas também os danos ambientais. 
  4. Incorporar práticas complementares – Técnicas como integração com matéria orgânica, uso de plantas de cobertura e manejo da irrigação podem reduzir o risco de lixiviação.

Conclusões

A dinâmica do fósforo em solos arenosos revela um dilema clássico entre produtividade imediata e sustentabilidade ambiental

Fertilizantes solúveis como TSP e organomineral garantem rápida disponibilidade de P, e apresentam elevado risco de lixiviação e contaminação hídrica. 

Em contrapartida, fontes alternativas de liberação lenta, como estruvita e termofosfato, oferecem menor risco ambiental e podem contribuir para o uso mais eficiente do nutriente.

O desafio, portanto, é integrar essas diferentes fontes e práticas de manejo de modo a equilibrar o suprimento de fósforo para as culturas com a preservação dos recursos naturais. 

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*Texto redigido pela Equipe de Conteúdo do SolloAgro.

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