Balanço de nutrientes em sistemas integrados: estratégias para sustentabilidade agrícola

Publicado em: 16/05/2025.

Entenda como sistemas integrados otimizam o balanço de nutrientes e auxiliam na sustentabilidade agrícola.

Sistemas integrados de produção agrícola, como Lavoura-Pecuária (ILP) e Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), têm ganhado destaque no Brasil por aliarem produtividade, conservação ambiental e estabilidade econômica.

As áreas com sistemas integrados cresceram cerca de 48%, de 11,5 milhões de hectares na safra 2015/2016 para estimativas de 17 milhões de hectares de 2017 a 2022, com perspectivas de alcançar 35 milhões de hectares até 2030 (IPEA, 2023).

Esses arranjos possibilitam o uso mais eficiente dos recursos naturais, o que favorece a ciclagem de nutrientes, a redução da degradação do solo e o aumento da resiliência dos agroecossistemas.

Entretanto, a complexidade desses sistemas exige um olhar técnico e estratégico sobre o balanço de nutrientes, ou seja, o equilíbrio entre os nutrientes que entram, circulam e saem do sistema. 

Esse equilíbrio é ainda mais desafiador em regiões tropicais, onde predominam diferentes tipos de solos, desde os mais arenosos e pobres em matéria orgânica até aqueles de maior fertilidade natural. 

Nesses contextos, práticas como a diversificação de culturas, uso de plantas de cobertura, calagem, gessagem e manejo integrado de nutrientes são fundamentais para sustentar a fertilidade e garantir a produtividade ao longo dos ciclos.

Imagem: Adubação em sistemas integrados
Fonte: Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto, foto de Alberto C. de Campos Bernardi.

O desafio do balanço de nutrientes em sistemas integrados

Em sistemas integrados, as entradas de nutrientes ocorrem principalmente via fertilizantes minerais, matéria orgânica e fixação biológica de nitrogênio (FBN) realizada por leguminosas.

As saídas, por outro lado, estão associadas à exportação pela colheita de grãos, forragem ou produtos pecuários, além das perdas por lixiviação, volatilização e erosão.

Quando o manejo não é equilibrado, podem surgir deficiências nutricionais, perda de produtividade e degradação do solo. Por isso, torna-se necessário adotar estratégias integradas de manejo de nutrientes, ajustadas à dinâmica biológica e química desses sistemas complexos.

A importância do mix de cobertura

Uma das principais ferramentas para melhorar a ciclagem de nutrientes e a saúde do solo em sistemas integrados é o mix de cobertura, com consórcios entre espécies com funções complementares, como gramíneas e leguminosas.

Imagem: Benefícios dos Sistemas Integrados 
Fonte: Rede ILPF

O mix promove o aumento da matéria orgânica, o que resulta em melhorias na descompactação do solo, maior retenção de água e estímulo à atividade microbiana.

Além disso, contribuem para a ciclagem de nutrientes, auxiliam na redução da erosão e das perdas por lixiviação, protegem o solo e mantêm a disponibilidade de nutrientes para as culturas subsequentes.

Adubação foliar como estratégia de complementação

A adubação via solo é a principal fonte de nutrientes para as plantas, e é fundamental para a nutrição de plantas.

De acordo com o Dr. Carlos Crusciol, docente da Unesp – Botucatu e do SolloAgro, a adubação foliar não deve ser vista como substituta da adubação convencional via solo, mas sim como uma adubação suplementar estratégica, capaz de fornecer rapidamente nutrientes essenciais com efeitos fisiológicos significativos.

Micronutrientes como zinco, manganês, ferro, níquel e boro são, geralmente, aplicados via adubação foliar, uma vez que esse método favorece sua absorção de forma mais eficiente e direcionada. 

Estes nutrientes atuam como ativador de enzimas associadas à resposta antiestresse nas plantas, que estimula a atividade de antioxidantes como a catalase, peroxidase e superóxido-dismutase. 

Essas enzimas atuam na proteção do metabolismo vegetal, uma vez que mantêm o equilíbrio fisiológico mesmo em situações adversas, como estresse hídrico, radiação excessiva ou oscilações térmicas.

Gessagem e calagem em sistemas agrícolas integrados

A calagem e a gessagem são práticas necessárias no manejo da fertilidade do solo em sistemas integrados, especialmente em regiões tropicais. 

A calagem corrige a acidez, eleva o pH do solo, reduz a toxicidade do alumínio e favorece a disponibilidade de nutrientes. 

Já o gesso, mais solúvel, atua em profundidade, levando cálcio e enxofre em subsuperfície.

Entretanto, produtores aplicam doses abaixo do necessário para suas lavouras, o que acarreta em prejuízos na produtividade. Em áreas de abertura no Cerrado, há a necessidade de 3 a 5 vezes mais calagem do que as recomendações tradicionais para garantir a construção de perfil e maior produtividade desde o primeiro ano.

O  Dr. Carlos Crusciol ainda destaca que, quando se aplicam doses muito baixas, o cálcio (Ca) e o magnésio (Mg) são rapidamente absorvidos pelas plantas nas camadas superficiais, sem sobra suficiente para migrar em subsuperfície. 

É preciso ter carga de nutrientes suficiente para que Ca e Mg cheguem às camadas mais profundas, especialmente em solos bem estruturados e com boa porosidade.

Desta forma, a correção e condicionamento deve ser feita de forma criteriosa, com base em análises químicas, priorizando a sustentação do sistema ao longo dos anos, e não apenas na resposta imediata da cultura.

Estratégias integradas para o equilíbrio nutricional

Para que sistemas integrados funcionem é necessário adotar um conjunto articulado de práticas de manejo nutricional.

Imagem: Os diferentes tipos de Sistemas Integrados Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) de produção agropecuária
Fonte: EsperançaAgro (2023)

A combinação de fontes orgânicas e inorgânicas, base da gestão integrada de nutrientes, torna o uso de nutrientes mais eficiente e contribui para a redução de perdas e impactos ambientais. 

Associado a isso, o uso de rotação e consorciação de culturas aumenta a diversidade biológica, intensifica a ciclagem de nutrientes e melhora gradualmente as condições físicas, químicas e biológicas do solo. 

Conclusão

O sucesso dos sistemas integrados de produção está ligado à eficiência do manejo nutricional. Práticas como a rotação de culturas, mix de cobertura, adubação complementar e correção do solo com calagem e gessagem são fundamentais para manter o equilíbrio de nutrientes e a sustentabilidade do sistema ao longo do tempo. 

Portanto, esses sistemas exigem decisões precisas sobre nutrição e desenvolvimento vegetal. Se você deseja entender como os nutrientes influenciam a fisiologia das plantas e melhorar seus resultados no campo, a especialização em Fisiologia Vegetal e Desenvolvimento de Plantas é para você.

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* Texto redigido pela Equipe SolloAgro.

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