Publicado em: 22/08/2025.
Entenda como os extratos de algas têm ganhado espaço na agricultura moderna e por que sua aplicação pode contribuir para maior produtividade, resiliência das plantas e sustentabilidade dos sistemas de cultivo.
A indústria agrícola enfrenta vários desafios, incluindo o aumento da produção para alimentar a crescente população mundial e o aumento da eficiência no uso de recursos.
A agricultura moderna demanda tecnologias que aumentem a produtividade e, ao mesmo tempo, garantam sustentabilidade.
Nesse contexto, os bioestimulantes vêm ganhando destaque, com ênfase especial nos extratos de algas.
Ficou interessado(a)? Continue a leitura para entender os desafios e soluções para o uso de extratos de alga na agricultura.
Origem e espécies mais utilizadas
Conforme explica o Dr. Marcos Bettini, líder de ações de desenvolvimento técnico e marketing na Acadian e docente do Programa SolloAgro, o uso de algas na agricultura começou há cerca de 300 a 400 anos.
Criadores de gado das regiões costeiras do Atlântico Norte, como França, Irlanda, Inglaterra e Canadá, colhiam algas das praias para usá-las como cama para os animais. Parte das algas era ingerida pelos animais, e o esterco misturado com a cama era aplicado em hortas e jardins.
Eles perceberam que, mesmo em ambientes salinos, as plantas apresentavam melhora no desenvolvimento, indicando a presença de compostos benéficos nas algas.
Somente na década de 1960 surgiram os primeiros estudos científicos para compreender a composição das algas e viabilizar sua produção comercial na agricultura.
Existem cerca de 9 mil espécies de algas marinhas integradas em diferentes grupos, como Phaeophyta (marrom), Chlorophyta (verde) e Rhodophyta (vermelho), dependendo de seus pigmentos, como clorofilas, carotenóides e ficobilinas (Khan et al., 2009).
De acordo com o Dr. Marcos Bettini, cerca de 80% do extrato de algas utilizado na agricultura é da espécie Ascophyllum nodosum.
Imagem: Espécie de alga Ascophyllum nodosum. Fonte: HEFE Fertilizer.
Principais compostos
Existem milhares de espécies de algas e a composição das diferentes espécies produz extratos com composições distintas.
Na alga mais utilizada, Ascophyllum nodosum, podemos citar os compostos:
- Ácidos algínicos/alginatos: capazes de complexar nutrientes metálicos, aumentando a disponibilidade para as plantas;Oligossacarídeos, fucoidanas e laminarina: associados à indução de resistência contra patógenos;Betaínas e prolina (osmólitos compatíveis): fundamentais para a tolerância ao estresse hídrico e salino;
- Nutrientes e ácidos orgânicos: presentes em pequenas quantidades, mas importantes para complementar a nutrição.
O Dr. Marcos Bettini ressalta: “Mais de 300 compostos já foram identificados nos extratos de algas, mas o que sabemos é que a ação deles é muito mais sinérgica do que isolada.”
Mecanismo de ação nas plantas
O uso de extratos de algas marinhas e seus componentes ativa diversas vias de sinalização e genes/enzimas relacionados à defesa.
As algas têm aplicações tanto na agricultura (biofertilizante, proteção contra estresses, aumento de produtividade), quanto em aspectos ambientais (bioindicadores de poluição) e industriais (produção de etanol).
Imagem: Diferentes aplicações dos extratos de algas. Fonte: Adaptado de Raja e Vidya (2023).
Como explica o Dr. Bettini: “Os extratos de algas não entregam hormônios prontos para a planta, mas sim moléculas que modulam e ativam a produção própria da planta.”
Benefícios agronômicos
- Melhora a eficiência no uso de nutrientes;
- Maior tolerância a estresses ambientais (hídrico, salino, térmico);
- Estímulo ao crescimento e desenvolvimento radicular, favorecendo absorção de água e nutrientes;
- Incremento da produtividade e qualidade da produção agrícola;
- Sustentabilidade: redução da dependência exclusiva de insumos químicos.
Perspectivas de mercado
As algas marinhas são consideradas uma das matérias-primas mais importantes para a produção de bioestimulantes.
O mercado de extrato de algas não para de crescer, com crescimento médio de 13% até 2031.
Imagem: Mercado global de bioestimulantes de extratos de algas marinhas. Fonte: Data Bridge 2023 – SWE Market Search.
Conclusão
Os extratos de algas constituem uma ferramenta estratégica para a agricultura moderna.
A ciência ainda busca compreender com maior profundidade o papel de cada composto, mas os resultados práticos são consistentes.
Como conclui Bettini: “O que vemos é que os extratos de algas vieram para ficar. Eles não substituem o manejo tradicional, mas complementam e trazem mais resiliência para o sistema produtivo.”
Referência Bibliográfica:
Khan, W.; Rayirath, U.P.; Subramanian, S.; Jithesh, M.N.; Rayorath, P.; Hodges, D.M.; Critchley, A.T.; Craigie, J.S.; Norrie, J.; Prithiviraj, B. Seaweed Extracts as Biostimulants of Plant Growth and Development. J. Plant Growth Regul. v. 28, p. 386–399, 2009.https://link.springer.com/article/10.1007/s00344-009-9103-x
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