Manejo de bacias hidrográficas: visão sistêmica para o uso sustentável do solo e da água

Publicado em: 13/06/2025.

Entenda como contribuir para a conservação da água e do solo a partir de práticas integradas de manejo em bacias hidrográficas.

A qualidade da água é influenciada por práticas de uso e manejo do solo.

O relatório de conjuntura dos recursos hídricos no Brasil, de 2021, da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), destaca que impactos antrópicos, como o manejo inadequado dos solos e o lançamento de efluentes, comprometem a qualidade das águas superficiais e subterrâneas

Além disso, a irrigação corresponde a cerca de 50% da retirada total de água para usos consuntivos setoriais no país, que destaca a pressão significativa sobre os recursos hídricos.

Diante desse cenário, compreender a dinâmica hidrológica das bacias hidrográficas torna-se fundamental para promover um uso racional do solo e mitigar impactos ambientais. 

A degradação dos recursos naturais está atrelada à desconexão entre práticas agrícolas e a lógica sistêmica das bacias. 

Ficou interessado(a)? Continue a leitura e descubra como o manejo correto pode transformar paisagens e preservar recursos naturais. Boa leitura!

O que são bacias hidrográficas?

Bacias hidrográficas são áreas delimitadas por divisores topográficos, onde a água da chuva escoa para um ponto comum, como um rio ou lago.

Elas integram fatores como relevo, solo, vegetação e uso da terra.

São considerados sistemas hidrológicos interdependentes, nos quais processos como infiltração, percolação e escoamento interagem constantemente.

Segundo o pesquisador Afonso Peche Filho, do Instituto Agronômico de Campinas e docente do Programa SolloAgro, a bacia hidrográfica é uma expressão energética da natureza.

“Ela se manifesta por meio de um eixo central onde tudo converge, com canais hidrológicos interconectados que drenam as águas para dentro dela, desde pequenos regos em nascentes até grandes rios” afirma o docente.

Imagem: Representação esquemática de uma bacia hidrográfica. Fonte: Lima J. S. D. et al. (2021).

Além disso, as bacias hidrográficas constituem unidades básicas para o planejamento ambiental e a gestão integrada dos recursos hídricos, uma vez que permitem compreender os efeitos acumulativos das intervenções humanas ao longo da paisagem. 

A análise em escala de bacia é necessária para avaliar impactos de uso do solo, ocupação urbana e práticas agrícolas sobre os corpos d’água, o que possibilita estratégias mais eficazes de conservação e recuperação ambiental.

Classificação das bacias hidrográficas

A classificação mais comum segue o sistema de ordens de drenagem proposto por Strahler, em que cursos d’água de primeira ordem não possuem afluentes e é onde se encontram as nascentes.

Quando se encontram, formam canais de segunda ordem, terceira ordem, e assim por diante. 

Essa hierarquia permite organizar o planejamento ambiental conforme a complexidade da rede hídrica, além de servir como base para a subdivisão espacial da bacia em unidades menores de gestão e intervenção.

Imagem: Representação esquemática da classificação por ordem de drenagem proposta por Strahler. Fonte: Casquin, A. (2021).

As sub-bacias são áreas de drenagem dos tributários do curso d’água principal e possuem áreas geralmente entre 100 km² e 700 km². 

Já as microbacias correspondem a unidades de menor escala, com área inferior a 100 km² e cuja drenagem ocorre diretamente para o curso principal de uma sub-bacia. 

Essa hierarquia espacial permite a segmentação do planejamento e da gestão ambiental em diferentes níveis, visto que facilita o diagnóstico e a aplicação de práticas conservacionistas mais eficazes.

Manejo de solos sob uma perspectiva hidrológica

O solo é o principal regulador hidrológico de uma bacia. Ele intercepta, infiltra, armazena e conduz a água, que influencia em sua qualidade e disponibilidade. Estrutura, porosidade e matéria orgânica são fatores que favorecem esses processos.

Quando mal manejado, o solo perde capacidade de infiltração, aumenta o escoamento superficial e facilita a erosão e o carreamento de sedimentos. 

A restauração da funcionalidade hidrológica envolve práticas como adição de matéria orgânica, manutenção da cobertura vegetal e estímulo à atividade biológica do solo.

Nesse contexto, práticas conservacionistas desempenham papel de destaque ao aliar a melhoria da saúde do solo à regulação dos fluxos hídricos na bacia.

Imagem: Representação esquemática com impactos e soluções para o manejo em bacias hidrográficas. Fonte: Possantti, I. B., & Marques, G. F. (2019).

Técnicas como plantio direto, terraceamento, uso de plantas de cobertura, diagnóstico agroambiental e tecnologias agroecológicas constituem um conjunto de estratégias que fortalecem a resiliência dos agroecossistemas frente aos eventos hidrológicos extremos e promovem o uso sustentável dos recursos naturais:

  • Plantio direto com cobertura permanente: sistema de manejo que visa reduzir o revolvimento do solo e mantém resíduos vegetais na superfície. Essa cobertura protege contra o impacto direto da chuva, reduz a evaporação, melhora a infiltração e estimula a atividade biológica. 
  • Cultivo em contorno e terraceamento: são práticas voltadas à condução da agricultura em áreas inclinadas. O cultivo em contorno segue as curvas de nível e reduz a velocidade do escoamento superficial, enquanto o terraceamento cria barreiras físicas que retêm a água e o solo. 
  • Plantas de cobertura e rotação de culturas: são estratégias que mantêm o solo protegido e biologicamente ativo. As plantas de cobertura reduzem a compactação, aumentam a porosidade e adicionam matéria orgânica, enquanto a rotação de culturas diversifica o sistema radicular e interrompe ciclos de pragas.

Gestão agroambiental com diagnóstico territorial: é uma abordagem baseada em ferramentas de geoprocessamento e indicadores ambientais para mapear riscos e vulnerabilidades. Permite identificar áreas prioritárias para conservação ou recuperação e orientar práticas conforme as condições locais.

Conclusão

O manejo integrado de bacias hidrográficas exige conhecimento técnico e visão sistêmica para alinhar produção agrícola à conservação dos recursos hídricos e edáficos. A adoção de práticas adaptadas ao contexto local fortalece a sustentabilidade e a resiliência das paisagens rurais.

*Texto redigido pela Equipe de Conteúdo do Programa SolloAgro.

Referências Bibliográficas: 

Casquin, A. (2021). The influence of landscape spatial organization on hydric transferts of Carbon, Nitrogen and Phosphorus in a mesoscale agricultural catchment. https://doi.org/10.13140/RG.2.2.33401.54880 

Possantti, I. B., & Marques, G. F. (2019). Soluções Baseadas na Natureza para sistemas hídricos de cidades: Conceituação e modelagem a nível de planejamento.

Lima J. S. D. et al. (2021). Caracterização fisiográfica das bacias hidrográficas dos rios Indaiá e Borrachudo como etapa pré-operacional para a indústria de hidrocarbonetos não convencionais.

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