Macro e micronutrientes: como diagnosticar deficiências e otimizar a nutrição da sua lavoura

Publicado em: 15/08/2025.

Descubra como diagnosticar deficiências de macro e micronutrientes na sua lavoura e otimize a nutrição das plantas para aumentar a produtividade com práticas eficientes.

A produtividade de uma lavoura começa muito antes da colheita. Ela se inicia no solo, na raiz e no equilíbrio da nutrição das plantas. Não importa se falamos de milho, soja, café ou hortaliças: sem um suprimento adequado de nutrientes, o potencial produtivo simplesmente não acontece..

Entre os nutrientes necessários, distinguimos dois grandes grupos:

  • Macronutrientes: requeridos em maiores quantidades (nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre).
  • Micronutrientes: necessários em quantidades menores, mas igualmente vitais (boro, zinco, cobre, ferro, manganês, entre outros).

A ausência de qualquer um deles, seja por deficiência no solo, baixa disponibilidade ou má absorção, compromete processos como fotossíntese, respiração celular, transporte de açúcares e formação de grãos (Bang et al., 2020).

Este conteúdo reúne informações sobre as funções dos principais nutrientes e os sinais visuais de deficiência, servindo como referência prática para diagnóstico e manejo no campo.

Disponibilidade de macro e micronutrientes

A disponibilidade dos nutrientes é influenciada pelo pH do solo. Um dos fatores que reduz a disponibilidade de micronutrinetes é a calagem, principalmente os metálicos como ferro (Fe), cobre (Cu), manganês (Mn) e zinco (Zn).

Imagem: relação entre pH e disponibilidade de nutrientes no solo. Fonte: Malavolta (1979).

Macronutrientes

Nitrogênio

O nitrogênio (N) é componente estrutural de proteínas, enzimas, clorofila e ácidos nucleicos. Está ligado ao crescimento vegetativo e à cor verde intensa das folhas, além de participar da fotossíntese e da produção de hormônios.

Sintomas de deficiência

  • A deficiência de nitrogênio sempre aparece nas folhas mais velhas primeiro e é caracterizada por uma clorose geral (por ser móvel na planta);
  • Folhas menores, crescimento reduzido e baixo perfilhamento em gramíneas;
  • Em casos severos, pode haver antocianose (coloração arroxeada) e florescimento precoce.

Imagem: (a) Folha de uma planta de milho saudável à esquerda e folha com deficiência de N com clorose geral à direita. (b) Acúmulo de antocianina em uma folha de colza com deficiência de N e clorose geral. (c) Clorose geral em tomate, com antocianose nas veias e no lado abaxial das folhas. Fonte: Adaptado  de Bang et al. 2020.

Fósforo

Elemento-chave na formação de ATP, fósforo (P) é fundamental para o armazenamento e transferência de energia. Participa da formação de ácidos nucléicos, membranas celulares e está ligado ao crescimento radicular, floração e frutificação.

Sintomas de deficiência

  • Coloração verde-escura com tons arroxeados nas folhas mais velhas;
  • Raízes curtas e pouco ramificadas;
  • Atraso no florescimento e na maturação.

Imagem: deficiência de P em milho. Foto: Guy Sela.

Potássio

O potássio (K) controla a abertura e fechamento dos estômatos, o que regula o balanço hídrico. Atua na ativação de mais de 50 enzimas e no transporte de açúcares, além de aumentar a tolerância a pragas, doenças e seca.

Dentre suas principais funções, destacam-se:

  • Promover tolerância ao estresse;
  • Fortalecer as paredes celulares;
  • Estimular a translocação de fotoassimilados;
  • Manter o turgor e reduzir o murchamento;
  • Regular a condutância estomática, a fotossíntese e a transpiração;
  • Manter o equilíbrio iônico.

Sintomas de deficiência

  • Queima nas bordas das folhas mais velhas (necrose marginal);
  • Plantas com menor rigidez e queda de resistência a doenças.

Imagem: sintomas de deficiência de potássio no milho e na soja. Fotos: Pest & Crop.

Cálcio

O cálcio (Ca) é translocado no xilema, mas não no floema, o que significa que não pode ser remobilizado quando os suprimentos externos são limitados.

Sintomas de deficiência

A deficiência de Ca2+ nos tecidos em crescimento causa fraqueza e morte, levando à podridão final da flor, queimadura da ponta e amargor. A deficiência de Ca2+ também pode resultar em uma baixa taxa de transpiração.

Imagem: sintomas de deficiência de Ca2+ em frutos. Fonte: University of Georgia Plant Pathology Archive.

Magnésio

As folhas mais velhas exibem clorose intervenal, na qual o tecido entre as nervuras das folhas fica amarelo enquanto as nervuras mantêm sua cor verde. As bordas das folhas podem se curvar e a fotossíntese pode ser afetada.

A deficiência de magnésio ocorre quando:

  • A disponibilidade de Mg no solo é baixa, principalmente em solos arenosos ou ácidos;
  • Ou quando os níveis de K e Ca são excessivamente altos.

Micronutrientes

Devido à sua crescente necessidade no sistema de cultivo intensivo para atingir maior produtividade, nos últimos anos, os micronutrientes ganharam profundo significado.

Boro

O boro (B) é fundamental para a formação da parede celular, germinação do pólen e crescimento do tubo polínico. Participa do transporte de açúcares e do metabolismo de carboidratos (Tripathi et al., 2015).

Sintomas de deficiência

  • Deformação das folhas mais novas;
  • Morte da gema apical;
  • Má formação de flores e frutos.

Zinco

O zinco (Zn) atua na síntese de hormônios de crescimento (auxinas) e na estabilidade das membranas celulares. Essencial para várias enzimas como a anidrase carbônica e RNA polimerase (Banerjee et al., 2023).

Sintomas de deficiência

  • Rosetamento (entrenós curtos);
  • Folhas jovens pequenas e estreitas;Clorose entre as nervuras.
  • Clorose entre as nervuras.

Imagem: sintomas de deficiência de Zn no milho. Fonte: Antônio Marcos Coelho (2021)

Cobre

O cobre (Cu) participa da fotossíntese, respiração e lignificação das paredes celulares. Atua como cofator em enzimas antioxidantes.

Sintomas de deficiência

  • Murcha e necrose nas pontas das folhas jovens;
  • Redução no crescimento e atraso no florescimento.

Imagem: sintomas de deficiência de Cu em milho. Fonte: Antônio Marcos Coelho (2021)

Manganês

A deficiência de manganês (Mn) resulta em clorose intervenal, semelhante à deficiência de zinco, quando o tecido entre as nervuras das folhas fica amarelo enquanto as nervuras mantêm sua cor verde.

À medida que a deficiência progride, as áreas cloróticas podem ficar brancas ou cinzas e as folhas podem apresentar necrose ou escurecimento. Plantas com deficiência de manganês também podem apresentar tamanho de folha reduzido e folhas ocas ou retorcidas.

A deficiência de manganês geralmente ocorre em:

  • Solos alcalinos ou com pH alto, onde a disponibilidade de manganês é limitada;
  • Altos níveis de ferro, alumínio ou cálcio no solo podem restringir a absorção de manganês pelas plantas.

Imagem: sintomas de deficiência de Mn em soja. Fonte: Hansel (2016)

Diagnóstico e manejo

A importância do diagnóstico

A observação visual das plantas é um ponto de partida, mas não deve ser o único critério. Muitos sintomas de deficiência se assemelham a danos causados por pragas, doenças ou estresses ambientais (Bang et al., 2020).

O diagnóstico completo exige:

  • Análise de solo: indica disponibilidade real de nutrientes;
  • Análise foliar: mostra o que realmente foi absorvido pela planta.

O papel do agrônomo

A interpretação dos resultados deve ser feita por um profissional capacitado, que definirá o melhor plano de manejo nutricional, considerando eficiência, custo-benefício e sustentabilidade.

Exemplo prático:
No Cerrado, o consórcio de café arábica com Urochloa decumbens elevou os teores foliares de Ca, Mg, Mn e Fe, resultando em ganhos de até 8 sacas/ha em produtividade (Sousa et al., 2025).

Recomendações de manejo 

  • Uso de tecnologias como sensoriamento remoto e câmaras multiespectrais para detectar deficiências precocemente;
  • Fertirrigação e adubação localizada para otimizar eficiência;
  • Integração com práticas conservacionistas, como rotação de culturas e plantas de cobertura, para melhorar a ciclagem de nutrientes.

Fome oculta

Nem todas as deficiências nutricionais nas plantas apresentam sintomas visíveis. Algumas deficiências podem estar “ocultas“, o que significa que não manifestam sinais visuais aparentes, especialmente nos estágios iniciais da deficiência.

Para evitar que essa situação ocorra é importante realizar análise de solo completa. 

Conclusões

A nutrição equilibrada é mais que um fator de produtividade, é um pilar da agricultura sustentável.

Conhecer o papel de cada nutriente, identificar sintomas precocemente e adotar práticas de manejo inteligentes garantem lavouras mais vigorosas, produtivas e resilientes.

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Referências bibliográficas:

BANG, Thomas Christian de et al. The molecular–physiological functions of mineral macronutrients and their consequences for deficiency symptoms in plants. New Phytologist, v. 229, n. 5, p. 2446–2469, 2020. https://doi.org/10.1111/nph.17074

SOUSA, Thais Rodrigues de et al. Arabica coffee intercropped with Urochloa decumbens improved nutrient uptake and yield in the Brazilian Cerrado. Plants, v. 14, n. 4, 496, 2025. https://doi.org/10.3390/plants14040496

BANERJEE, Samrat et al. Advanced biotechnological strategies towards the DEVELOPMENT of crops with enhanced micronutrient content. Plant Growth Regulation, v. 100, p. 355–371, 2023. https://doi.org/10.1007/s10725-023-00968-4

TRIPATHI, Durgesh Kumar et al. Micronutrients and their diverse role in agricultural crops: advances and future prospective. Acta Physiologiae Plantarum, v. 37, n. 139, 2015. 10.1007/s11738-015-1870-3



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