Publicado em: 25/07/2025.
Entenda por que o fósforo apresenta baixa eficiência e por que reconhecer sua escassez é fundamental para adotar práticas que aumentem sua disponibilidade e promovam seu uso eficiente no solo.
O fósforo (P) é um nutriente fundamental à fisiologia vegetal, atua na formação de ácidos nucleicos, ATP e fosfolipídeos, além de participar de processos como fotossíntese, respiração e divisão celular.
Apesar disso, sua disponibilidade natural é limitada, principalmente em ambientes tropicais, como o Brasil, onde predomina a adsorção em óxidos de ferro e alumínio.
Diante dessa limitação, os sistemas produtivos agrícolas tornaram-se dependentes da aplicação externa de fertilizantes minerais.
Nesse sentido, entre 1967 e 2016, o Brasil acumulou cerca de 33,4 milhões de toneladas de fósforo nos solos agrícolas em formas pouco disponíveis às plantas.
Segundo Pavinato et al. (2020), esse montante está majoritariamente fixado no solo, resultado de décadas de adubações.
Se esse padrão de uso se mantiver, o estoque pode ultrapassar 100 milhões de toneladas até 2050, o que representa uma economia potencial de mais de US$ 20 bilhões com fertilizantes fosfatados.
Essa reserva, no entanto, só será útil se conseguirmos manejá-la de forma eficiente e sustentável.
Ficou interessado? Continue a leitura para entender os desafios e soluções para o uso eficiente do fósforo na agricultura.
Fontes de fósforo e ineficiências ao longo da cadeia agrícola
O fósforo utilizado na agricultura provém majoritariamente de fontes minerais (como rocha fosfática, TSP, SSP, DAP) e de resíduos orgânicos como estercos, compostos e biossólidos.
Imagem: Teores de fósforo e suas formas no solo. Fonte: Wahid et al (2022).
No entanto, apenas uma fração do fósforo extraído da natureza alcança, de fato, a alimentação humana: menos de 17% do fósforo minerado chega ao consumo humano (Cordell et al., 2009).
As perdas ocorrem em diversas etapas: cultivo, colheita, processamento, consumo e descarte inadequado.
Essa ineficiência é agravada pela limitada mobilidade do fósforo no solo e pelos processos físico-químicos que o tornam indisponível às plantas.
No Brasil, esse acúmulo forma o legado de fósforo, que representa tanto um potencial de recuperação quanto um risco ambiental, se mal manejado.
Imagem: Mapa do legado do fósforo (Legacy P) no solo acumulado durante o cultivo e a adição de fertilizantes minerais nas áreas agrícolas brasileiras no período de 1960 a 2016. Fonte: Pavinato et al (2020).
Dinâmica físico-química e biológica do fósforo
A dinâmica do fósforo no solo é controlada por interações entre formas inorgânicas e orgânicas.
Em solos tropicais, o fósforo é facilmente adsorvido por óxidos de ferro e alumínio ou precipitado com cálcio, especialmente em pH extremos.
Parte do fósforo orgânico também permanece imobilizado, exigindo mineralização.
Para Pavinato et al. (2020) destacam que o tipo de manejo adotado pode alterar a distribuição vertical do fósforo, como em sistemas de plantio direto, onde há maior acúmulo nas camadas superficiais.
Isso torna mais eficiente a absorção pelas culturas, mas também aumenta o risco de perdas por escorrimento superficial.
A matéria orgânica do solo (MOS) pode competir com o fósforo por sítios de adsorção, complexar cátions como Fe³⁺ e Al³⁺, além de liberar ácidos orgânicos e enzimas que favorecem a solubilização.
A presença de resíduos vegetais na superfície favorece essa ciclagem interna e melhora o uso do legado de fósforo.
Imagem: Mecanismos utilizados pelas plantas e microrganismos para obtenção de fósforo. Fonte: Santos et. al (2020)
Estratégias para aumentar a disponibilidade de fósforo
Microrganismos solubilizadores de fosfato (MSPs)
Microrganismos como bactérias solubilizadoras (BSPs) e fungos micorrízicos arbusculares (FMAs) são alternativas viáveis ao uso excessivo de fertilizantes minerais.
Eles atuam por meio da liberação de ácidos orgânicos (ex.: cítrico, oxálico), produção de fosfatases e formação de quelantes com Fe e Al.
A inoculação de MSPs pode aumentar a absorção de fósforo e gerar ganhos de produtividade, especialmente em solos com alta fixação.
Os fungos micorrízicos formam simbioses funcionais com raízes, e ampliam a superfície de absorção. Além de melhorar a nutrição fosfatada, contribuem para a estruturação do solo e maior resiliência a estresses. Associados às BSBs, têm efeitos sinérgicos na disponibilização do fósforo.
Melhoramento genético e cultivares eficientes
O desenvolvimento de cultivares com maior eficiência no uso de fósforo (PUE) é essencial.
Segundo o professor Paulo Sérgio Pavinato, docente da ESALQ/USP e do Programa SolloAgro, o melhoramento genético focado em características das raízes, como maior desenvolvimento radicular, maior capacidade de absorção e exsudação de compostos que solubilizam fósforo, pode aumentar significativamente a eficiência do uso desse nutriente.
Cultivares com sistemas radiculares adaptados promovem melhor exploração do solo e maior aproveitamento do fósforo aplicado.
Ciclagem e eficiência no sistema agrícola
A transição para um modelo mais eficiente e sustentável requer estratégias de circularidade: emprego de resíduos agroindustriais, compostagem e reuso de biossólidos. Ferramentas como Substance Flow Analysis (SFA) e Life Cycle Assessment (LCA) permitem mapear fluxos e identificar gargalos e reduzir perdas.
Conclusão
A eficiência no uso do fósforo é vital para a sustentabilidade agrícola. Combinar práticas conservacionistas, bioinsumos e cultivares adaptadas é necessário para aproveitar melhor esse recurso estratégico.
Referências Bibliográficas:
Cordell, D., Drangert, J.-O., & White, S. (2009). The story of phosphorus: Global food security and food for thought. Global Environmental Change, 19(2), 292–305. https://doi.org/10.1016/j.gloenvcha.2008.10.009
Pavinato, P. S., Cherubin, M. R., Soltangheisi, A., Rocha, G. C., Chadwick, D. R., & Jones, D. L. (2020). Revealing soil legacy phosphorus to promote sustainable agriculture in Brazil. Scientific Reports, 10(1), 15615. https://doi.org/10.1038/s41598-020-72302-1
Santos, D. R. dos (with Somavilla, A., Oliveira, L. B. de, & Tiecher, T.). (2020). Ciclo biogeoquímico do fósforo, diagnóstico de disponibilidade e adubação fosfatada. Tales Tiecher.
Wahid, F., Sharif, M., Shah, F., Ali, A., Adnan, M., Rafiullah, . . . Datta, R. (2022). Mycorrhiza and phosphate solubilizing bacteria: Potential bioagents for sustainable phosphorus management in agriculture. Phyton, 91(2), 257-278. doi:https://doi.org/10.32604/phyton.2022.016512
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