Publicado em: 17/10/2025.
O Brasil passou de importador a maior exportador mundial de algodão, destacando-se pela alta produtividade, qualidade superior e adoção de práticas agrícolas sustentáveis.
Em poucas décadas, o Brasil deixou de importar algodão para se tornar o maior exportador mundial, referência em produtividade e sustentabilidade no campo.
O Brasil é o maior exportador de algodão do mundo. Com cerca de 3,9 milhões de toneladas de pluma de algodão produzidas na safra 2024/25 é o terceiro maior produtor.
Apresenta a maior produtividade média de algodão do mundo sem irrigação, com 1.842 kg/hectare. Cerca de 92% do algodão brasileiro está em áreas de sequeiro.
Esse crescimento é reflexo da adoção de tecnologias, manejo integrado e expansão de área em regiões do Cerrado e Centro-Oeste.
Além da quantidade, a qualidade da fibra — em parâmetros como comprimento, resistência, uniformidade e micronaire — tem melhorado devido à genética (cultivares híbridas e transgênicas), ao manejo de colheita e à classificação industrial. Esses avanços têm permitido maior penetração em mercados exigentes e o crescimento das exportações.
Linha do tempo: fatores que impulsionaram a evolução
Historicamente, o algodão foi cultivado em regiões tradicionais do Nordeste. A partir das décadas de 1990–2010 houve migração para o Cerrado e Centro-Oeste, áreas favorecidas por solos profundos. Além disso, possibilitou a integração lavoura-pecuária-floresta e a infraestrutura logística em expansão.
A adoção de cultivares Bt (Bacillus thuringiensis) e de variedades com melhor arquitetura de planta reduziu perdas por pragas e aumentou eficiência de colheita mecanizada.
O Manejo Integrado de Pragas (MIP), a rotação de culturas e o tratamento de sementes reduziram riscos e permitiram densidades de semeadura e regimes de adubação mais otimizados.
A colheita mecanizada e os avanços em beneficiamento (descascamento e classificação) elevaram o rendimento de pluma por hectare e a uniformidade de qualidade, o que reduziu perdas pós-colheita e variabilidade de lotes.
Imagem: fardos de algodão no pátio da algodoeira em Chapadão do Sul – MS. Foto: João Paulo Marim Sebim.
Práticas de conservação do solo, como plantio direto, cobertura vegetal, irrigação localizada em áreas selecionadas e certificações de sustentabilidade fomentaram a produção de algodão com menores impactos ambientais e com selo de rastreabilidade exigido por mercados internacionais.
O nabo forrageiro é um exemplo de planta utilizada como cobertura em áreas algodoeiras que contribui para a descompactação do solo, para o controle de plantas daninhas, ciclagem de nutrientes e para melhoria da estrutura e fertilidade do solo.
Imagem: nabo forrageiro (Raphanus sativus L.) em área de pousio em Chapadão do Sul – MS. Foto: João Paulo Marim Sebim.
Qual tipo de algodão é cultivado no Brasil?
O algodão de terras altas (Gossypium hirsutum) é o mais cultivado no mundo devido à sua produtividade, versatilidade e adaptabilidade a diferentes climas e produtos finais.
No Brasil ele é responsável por aproximadamente 100% da produção nacional. Uma planta herbácea, com ciclo mais curto e que se adapta bem ao sistema de rotação de culturas, uma prática muito comum no Brasil.
A maior parte é plantada em áreas utilizadas para soja, milho ou feijão. O que permite melhor uso dos recursos do solo, preserva os nutrientes e mantém a produtividade ao longo do tempo. Além disso, permite que os agricultores tenham até duas safras por ano.
Imagem: algodão de terras altas (Gossypium hirsutum) plantado em sucessão a soja em Nova Mutum – MT. Foto: João Paulo Marim Sebim.
Produtividade e rendimento
O crescimento observado não decorre somente do aumento de área: a produtividade média por hectare duplicou, graças à sinergia entre genética e manejo.
Do ponto de vista agronômico, ganhos por hectare têm sido sustentados por:
- Adubação balanceada e tecnologia de fertilizantes;
- Correção de solo e calagem;
- Calendário de semeadura otimizado e;
- Controle de plantas daninhas que preserva a eficiência de uso de recursos.
Esses elementos compõem a “caixa de ferramentas” que elevou o rendimento médio brasileiro.
Imagem: razões pela qual o algodão brasileiro é um dos melhores do mundo. Fonte: ABRAPA.
Organização produtiva e mercado
A evolução técnica da cotonicultura brasileira foi catalisada por forte interação entre centros de pesquisa (EMBRAPA e universidades), empresas privadas de sementes e maquinários, cooperativas e associações setoriais, como a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (ABRAPA).
A coleta e difusão de dados por essas instituições permitiram desenvolver recomendações regionais de manejo, adaptar cultivares locais e reduzir o risco de adoção tecnológica.
Desafios técnicos e prioridades de pesquisa
- Variabilidade climática: secas e eventos extremos exigem estratégias de resiliência, como genótipos tolerantes ao estresse hídrico e práticas de conservação hídrica.
- Sustentabilidade: reduzir uso de agroquímicos sem perda de produtividade; ampliar certificações de cadeia e rastreabilidade.
- Rotação e integração: otimizar sistemas de integração lavoura-soja-algodão-pecuária para manter a saúde do solo e reduzir pragas e doenças.
- Melhoria varietal contínua: requisitos de mercado por fibras específicas exigem programas de melhoramento alinhados com as demandas industriais.
Conclusão
A trajetória do algodão no Brasil é um caso de modernização agrícola guiada por tecnologia, organização institucional e resposta a mercados globais.
Do ponto de vista técnico, o principal legado é a demonstração de que os ganhos de produtividade e qualidade são alcançáveis quando genética, manejo e logística são integrados em escala.
Para pesquisadores e profissionais do setor, as prioridades futuras residem em consolidar a sustentabilidade produtiva frente às mudanças climáticas e em aprofundar a qualidade da fibra para segmentos têxteis de alto valor agregado.
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*Texto redigido pela Equipe de Conteúdo do SolloAgro.
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