Maurício Roberto Cherubin, Dener Márcio da Silva Oliveira, Brigitte Josefine Feigl, Laisa Gouveia Pimentel, Izaias Pinheiro Lisboa, Maria Regina Gmach, Letícia Leal Varanda, Maristela Calvente Morais, Lucas Santos Satiro, Gustavo Vicentini Popin, Sílvia Rodrigues de Paiva, Arthur Klebson Belarmino dos Santos, Ana Luisa Soares de Vasconcelos, Paul Lineker Amaral de Melo, Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, Carlos Clemente Cerri
A utilização de restos culturais como matéria prima para produção de bioenergia é considerada uma estratégia potencial para mitigar as emissões de gases de efeito estufa (GEE). No entanto, a remoção indiscriminada de restos culturais pode induzir efeitos deletérios no funcionamento do solo, no crescimento das plantas e em outros serviços ecossistêmicos. Neste artigo, foram sintetizadas as informações disponíveis na literatura para identificar e discutir as principais efeitos negativos e sinergismos envolvidos no manejo de resíduos culturais para a produção de bioenergia.
Os dados mostraram consistentemente que a remoção de resíduos culturais e a consequente menor entrada de matéria orgânica no solo reduzem o estoque de C ao longo do tempo, afetando negativamente a ciclagem, o suprimento e a disponibilidade de nutrientes no solo, e prejudicando diretamente a biota do solo. Embora a biota regule as principais funções no solo, os resíduos culturais podem também causar a proliferação de algumas pragas agrícolas importantes. Além disso, os resíduos culturais atuam como barreira física que protege o solo contra o impacto das gotas de chuva e variações de temperatura. Portanto, a remoção intensiva de resíduos culturais pode causar a degradação da estrutura do solo, levando à compactação do solo e aumento dos riscos de erosão.
Com relação às emissões de GEE, não há consenso sobre os potenciais impactos do manejo de remoção dos resíduos culturais. Em geral, a remoção dos resíduos culturais diminui as emissões dos gases dióxido de carbono (CO2) e óxido nitroso (N2O) do processo de decomposição, mas não tem efeito significativo sobre as emissões de metano (CH4). As respostas do crescimento de plantas às alterações do solo e do microclima devido à remoção dos resíduos culturais são específicas de cada local e a cultura. A adoção de práticas de manejo conservacionistas pode mitigar os impactos adversos da remoção de resíduos culturais.
Experimentos de longa duração em regiões produtoras estratégicas são essenciais para entender e monitorar o impacto de sistemas agrícolas integrados e propor soluções customizadas para o manejo sustentável de resíduos culturais em cada propriedade ou região. Além disso, investimentos/cooperações públicas e privadas são necessárias para uma melhor compreensão das potenciais implicações ambientais, econômicas e sociais do uso dos resíduos culturais para a produção de bioenergia.
O artigo foi publicado na revista “Scientia Agricola”. Você pode encontrar a versão completa em inglês por meio do link http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-90162018000300255.
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